Profa. Dra. Silvia Gonçalves de Almeida
Pedagoga, Psicanalista e Doutora em Psicologia Social.
Silvia é docente de cursos de graduação e pós-graduação em Neurociências e Educação.
É importante considerarmos que a Neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar; seus fundamentos estão no diálogo entre a Neurociência aplicada à educação, a Psicologia Cognitiva e a Pedagogia - em especial no que se refere à inclusão e educação especial.
A Neurociência compreende o estudo do sistema nervoso, sua estrutura, função, desenvolvimento, genética, bioquímica, fisiologia, farmacologia e patologia das células nervosas e circuitos neurais. Essa ciência visa a compreensão do funcionamento do cérebro e auxilia no diagnóstico e tratamento de doenças neurológicas, podendo também atuar no desenvolvimento de tecnologias neurais e na promoção da saúde mental através do entendimento dos fundamentos neurais dos diferentes tipos de transtornos para melhoria em diagnósticos e tratamentos.
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Introdução à Neuropsicopedagogia
A Neuropsicopedagogia relaciona-se diretamente à educação por meio do estudo do cérebro no que se refere à aprendizagem, dificuldades de aprendizagem e transtornos do neurodesenvolvimento, propondo mudanças em práticas pedagógica, compreensão na inter-relação entre funções e potencial de aprendizagem e inclusão.
Do ponto de vista da psicologia cognitiva, tem-se o estudo de processos mentais (memória, percepção e linguagem), onde teóricos como Jean Piaget e Lev Vygotsky contribuíram significativamente para a compreensão do desenvolvimento cognitivo e suas implicações para a educação.
A pedagogia - particularmente, a voltada para a educação especial - busca adaptar o ensino para atender às necessidades individuais dos alunos. Esse campo começou a integrar conhecimentos de neurociência e psicologia para desenvolver estratégias educativas mais eficazes tendo em vista a inclusão.
O desenvolvimento da Neurociência pelo mundo
Na segunda metade do século XX, a Neuropsicologia começou a se expandir e com isso os estudos sobre lesões cerebrais e como afetam a aprendizagem passaram a se aprimorar. Outro ponto essencial de ser ressaltado é o avanço das tecnologias de imagem cerebral - a ressonância magnética funcional (RMF), por exemplo, permitiu aprofundar o conhecimento sobre o processamento da informação no cérebro durante a aprendizagem.
Dessa forma, no final do século XX e início do século XXI, cresceram as pesquisas em neurociências e educação, com estudos focados na aprendizagem e funcionamento cerebral, dificuldades de aprendizagem, transtornos do neurodesenvolvimento e educação inclusiva. Entretanto, a Neuropsicopedagogia passa a surgir somente no novo século.
A atuação do neuropsicopedagogo combina a compreensão do processo de aprendizagem com ações de intervenção neuropsicopedagógica. Sua história, apesar de recente, é uma área já em forte expansão por se propor a compreender melhor os processos de aprendizagem para que as intervenções sejam mais eficazes para o tratamento das dificuldades educacionais.
Neuropsicopedadogia no Brasil
Em 2000, no Brasil, o termo neuropsicopedagogia apareceu numa disciplina com o nome de “Estudos Neuropsicopedagógicos”. Já em 2007, uma tese de doutorado abordou o tema "Avaliação Neuropsicopedagógica em Crianças com Surdez". Porém, somente em 2008, iniciou-se a formação na área formação na área onde no ano seguinte é publicado o primeiro artigo científico. Com rápido avanço, o primeiro curso na área clínica é fundado em 2010.
Houve, então, a necessidade de se sistematizar, principalmente, para atuação prática institucional e clínica, resultando na criação da Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia (SBNPq), em 2014.
O primeiro livro relacionado ao estudo, “Neuropsicopedagogia Clínica: Introdução, teoria, conceito e prática” (2015), de Rita M. T. Russo, trouxe contribuições importantes para a área clínica, com formulação de bases teóricas responsáveis por subsidiar a Neuropsicopedagogia, contando com o contexto de atuação e bases para avaliação e intervenção na área.
Em 2015, com o I Seminário Nacional de Neuropsicopedagogia, há o impulsionamento da publicação de inúmeros artigos, ocasionando nos primeiros congressos em Neuropsicopedagogia, ocorridos em 2017 nas cidades de Recife e Joinville.
Rita Russo publica posteriormente o livro “Neuropsicopedagogia Institucional” (2018), onde apresenta a atuação do neuropsicopedagogo institucional e aborda temas de relevância para a área como inclusão, prática neuropsicopedagógica e sondagem neuropsicopedagógica.
Já em 2021, algumas pesquisas desenvolvidas por membros da SBNPq são premiadas e, no mesmo ano, Vitor Fonseca publica “Educabilidade Cognitiva e Neuropsicopedagogia: Novos paradigmas da educação”. No ano seguinte, Denise Sato segue com a publicação do livro “Avaliação na Neuropsicopedagogia Clínica”.
Regulamentação da Neuropsicopedagogia
Vale ressaltar que a profissão do neuropsicopedagogo ainda não é regulamentada e não possui um conselho profissional, porém é reconhecida pela Classificação Brasileira de Ocupações desde 2018 e, atualmente, a SBNPq propõe orientações sobre atividades do Neuropsicopedagogo, organização curricular dos cursos de neuropsicopedagogia e o código de ética profissional.
O crescimento da área em pesquisa e prática profissional tem encontrado uma crescente, principalmente, no que se refere à inclusão e equidade. A Neuropsicopedagogia é uma área de conhecimento essencial para a valorização da neurodiversidade, democratização do saber e equidade de oportunidade para aprender.
Como a Neuropsicopedagogia está mudando a Educação?
A Neuropsicopedagogia emerge como uma poderosa aliada na transformação do cenário educacional, promovendo abordagens inovadoras que consideram a interseção única entre Neurociência, Psicologia e Pedagogia.
Nos últimos anos, a Neuropsicopedagogia está em ascensão devido ao aumento da compreensão sobre o funcionamento do cérebro e ao reconhecimento da importância da identificação e do tratamento das dificuldades de aprendizagem.
Sua influência abrangente está redefinindo práticas pedagógicas e gerando impactos significativos no processo de ensino-aprendizagem. Por isso, aprofundar-se no tema é essencial para profissionais que desejam se atualizar na área da Educação.
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