Profª. Drª. Sonia Bufarah Tommasi
curso de especialização em Psicologia Analítica: Abordagem Junguiana
Caminhos
As últimas décadas do século XIX para as primeiras décadas do século XX ocorreram rupturas significativas em vários segmentos das sociedades europeias; surge um novo pensar na política internacional que interferem em vários níveis nacionais, no meio social e cultural de cada país. Nas artes plásticas, literária e musical surgem os movimentos de vanguarda que exigiam liberdade de estética, tais como, o expressionismo, cubismo e dadaísmo, que influenciaram diretamente na arte do Brasil. As artes restabelecem assim a conexão com psicologia, pedagogia e ciência.
As pesquisas no campo da psique se desenvolvem com novas teorias. A psique tornou-se o centro de interesse dos pesquisadores da psicologia, e como resultado, a psiquiatria integrou-se à medicina. A psiquiatria lidaria com o ser humano como pessoa, tendo como central, a mente.
O enfoque inovador de estudos sobre ciência e arte, e principalmente com as produções expressivas dos doentes mentais surgiu na Alemanha, Áustria e França chegando ao Brasil. O primeiro e mais abrangente processo de integração das áreas médica, social e educativa está associado ao Movimento de Higiene Mental.
A saúde psíquica passa a se constituir num objetivo a ser alcançado pelos psiquiatras, psicólogos em conjunto com os cientistas sociais, educadores e administradores públicos.
“Os estudos iniciais da psiquiatria com a arte traçam paralelos entre a expressividade dos loucos com arte infantil e com a arte primitiva”. (TOMMASI, 2003, p.206) O foco de interesse de psiquiatra, críticos de artes, escritores direciona-se par ao processo expressivo dos loucos nos hospícios, em busca de esclarecimentos para tais manifestações.
No Brasil se destaca o psiquiatra Osório Cesar (1895-1980), que dedicou 40 anos de sua vida ao Complexo Hospitalar do Juquery em São Paulo. Em 1946, a psiquiatra Nise da Silveira, contraria as técnicas terapêuticas vigentes instala o centro de terapia ocupacional, no Hospital psiquiátrico Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, revolucionado os tratamentos psiquiátricos da época.
Arteterapia e os processos criativos.
O ser humano busca repostas para compreender o significado de sua existência desde que tomou consciência de si, enquanto ser, diferenciando-se do mundo ao seu redor. É um ser imaginativo, expressivo, criativo e simbólico por natureza.
Entre todos os animais é o único que é capaz de pensar reflexivamente, inovar, destruir, elaborar, e de transformar. É na capacidade criativa, que existe a chave de evolução da condição humana.
O processo criativo não é apenas uma questão individual, mas não deixa de ser questão do indivíduo. E cada ser humano é indivisível em sua personalidade e na combinação de suas potencialidades. (TOMMASI, 2003)
A imaginação se utiliza dos símbolos para expressar conteúdos profundos da psique. O desenvolvimento da imaginação está ligado ao lúdico, a criatividade e aos símbolos.
O símbolo está intrinsecamente ligado a conteúdos profundos da psique coletiva, isto é, tem a função de concretizar objetivamente núcleos arquetípicos e complexos autônomos.
A Arteterapia permite ao ser humano perceber o significado atribuído à sua vida, sendo também, um dos elos de ligação com o mundo, unindo o individual ao coletivo.
A direção da Arteterapia baseia-se em um diálogo contínuo entre ego consciente e o inconsciente. Essa direção vem por meio da compreensão de sonhos, fantasias e/ou expressões artísticas que mostram quais as atitudes ou impulsos que devem ser trazidos a uma realização concreta. (TOMMASI, 2003)
A psique possui potencialidade para a auto cura que pode ser alcançada pelas expressões artísticas.
O início da Arteterapia
Margaret Naumburg (1890-1983) e sua irmã Florence Cane (1882-1952) são consideradas as precursoras da Arteterapia e da Arte-Educação como métodos de psicoterapia e pedagogia.
Margaret Naumburg, foi a primeira a sistematizar a Arteterapia, denominando seu trabalho de Arteterapia de Orientação Dinâmica. Em1914 fundou a Children’s School mais tarde Walden School- essas escolas visavam o desenvolvimento da criança, que era estimulado pela expressão criativa espontânea. A psicanálise auxiliou o entendimento do mundo criança. Sendo assim: “A natureza e significados de uma ação não pode mais ser julgada por suas meras manifestações externas” (ANDRADE,2000, p.69)
Observar a criança a partir da teoria psicanalítica mudou a compreensão sobre seus desenhos, imagens produzidas de forma espontânea.
“O processo de Arteterapia dinamicamente orientado é baseado no reconhecimento de que os pensamentos e sentimentos fundamentais do homem são derivados do inconsciente [...] Como em um procedimento psicanalítico estas imagens podem estar ligadas a conteúdos de sonhos, fantasias, devaneios, medos, conflitos e memórias infantis.” (ANDRADE, 2000, p.72)
Ao oferecer materiais diversos para a criança ou adulto, percebe-se a espontaneidade do ato de criar “As técnicas de Arteterapia são baseadas no conhecimento que todo individuo, quer tenha ou não, treino em arte, tem uma capacidade latente para projetar seus conflitos interiores em formas visuais.” (ANDRADE, 2000, p.72)
As imagens que habitam o inconsciente emergem de forma espontânea e ali na expressão se identifica as dores, traumas, angustiadas que estão cristalizadas.
O arteterapeuta não interpreta a expressão simbólica do trabalho artístico do paciente, mas incentiva a descobrir por ele mesmo o significado de suas produções, colocando o foco de atenção no processo terapêutico criativo.
O arteterapeuta não explica o trabalho do paciente, mas tenta ajudá-lo, reflexivamente, a procurar prováveis significado interiores representados no desenho e, portanto, reapresentados a ele. Desta forma o sujeito pode captar significado de aspectos de sua vida psíquica inconsciente exibidos pelos desenhos ao perceber, observar, sentir, pensar e comentar a respeito de seu trabalho.
Florence Cane, 1882, artista, professora de artes, desenvolveu métodos de ensino para liberar a expressão artística, também fez trabalhos terapêuticos com artes. Orientada pelas teorias de Jung e sua própria analise, Cane induzia as crianças a pintarem impelidas pelos seus sentimentos. (ANDRADE, 2000, p.80)
Esta maneira, a imaginação, a intuição, a vontade, os sentimentos passam a ter uma grande importância na aquisição e desenvolvimento da auto expressão das imagens advindas do inconsciente. Desenvolveu o pensar da Arteterapia nos processos de arte-educação. Visualizou que a Arteterapia em educação faz parte da formação do indivíduo.
No Brasil a organização da Arteterapia
Associações: atualmente existem 11 associações de Arteterapia no Brasil, que congregadas formaram a União Brasileira das Associações de Arteterapia UBAAT, que se torno a representante máxima da Arteterapia. A UBAAT orienta a grade curricular dos cursos, o quadro de profissionais professores.
Estrutura do curso de pós lato sensu de acordo com a normas da UBAAT.
1- Carga horaria mínima 360 h presenciais
2- O curso deve conter a grade curricular mínima exigida pela UBAAT
3- 100 h de estágios (o aluno deve atender fora do horário de aula)
4- 60h de supervisão, com um Arteterapeuta, professor do curso
5- Escrever relatórios dos atendimentos.
6- Os professores devem ser arteterapeutas (para disciplinas especificas)
7- Artigo final
Graças aos esforços dos Membros do Conselho da UBAAT, Em 31/01/2013, a CBO 2002 – CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÃO, publicou a Família 2263 - Profissionais das terapias criativas e equoterápicas. Reconhecendo como profissão a Arteterapia 2263-10. Essa informação poderá ser acessada pelo site: www.mtecbo.gov.br
Em um trabalho continuo dos Membros do Conselho da UBAAT, o Ministério da Saúde aprovou em 17 janeiro de 2017 a inserção da Arteterapia nas Práticas Integrativas Complementares em Saúde (PICS), no Sistema Único de Saúde- SUS, por meio da Portaria N° 145/2017, publicado no Diário Oficial da União. O campo de atuação para o profissional arteterapeuta ampliou-se, podendo atuar em órgãos públicos SUS, CREAS, CRAS, CAPS e privados, nas áreas da saúde, educação, institucional e organizacional.