O arquétipo de Perséfone e o mundo inferior na Psicologia Analítica
O arquétipo de Perséfone e o mundo inferior na Psicologia Analítica
Postado em
13/11/2023
Quando pensamos em mundo inferior, logo nos vêm à mente profundezas sombrias, escuridão e até mesmo personagens míticos, como Hades e Perséfone, figuras do submundo na mitologia grega.
A ideia de profundeza e de mundo inferior também pode remeter a um conhecido conceito da Psicologia Analítica de Carl Jung, e também nosso tópico de hoje: o inconsciente.
A psicologia junguiana é bastante pautada em buscar compreender a psique humana pela interpretação de mitos, traçando paralelos e simbolismos que nos ajudam a compreender os acontecimentos de nossas vidas.
Mas você sabe como o arquétipo de Perséfone e o conceito de mundo inferior se relacionam com a teoria do inconsciente proposta por Jung?
A figura de Perséfone na mitologia
Antes de mais nada, ter o contexto para esta análise é essencial: na mitologia grega, Perséfone é filha de Deméter – deusa da agricultura e do solo fértil, que tinha domínio sobre a terra – e de Zeus – deus dos céus, do raio e do trovão, com domínio sobre os céus –, que é raptada por Hades – deus do submundo – e, posteriormente, vem a se casar com ele e se torna Rainha e Senhora do submundo.
No submundo, por ter comido sementes de romã – simbolizando a perda da inocência –, Perséfone é condenada a ficar parte do ano no mundo inferior e outra parte do ano na superfície, para retornar à companhia de sua mãe, Deméter.
O arquétipo de Perséfone conforme a Psicologia Analítica
Uma das leituras mais difundidas sobre esse mito tem foco na figura materna da deusa da agricultura para explicar o ciclo da natureza: em razão da tristeza de não ter sua filha por metade do ano, Deméter influencia na natureza, de forma que a humanidade não colhe frutos, ao passo que, quando tem de volta a companhia da filha, Deméter faz que a humanidade volte a ser capaz de colhê-los.
Contudo, é possível fazer uma leitura do mito de Perséfone como uma pessoa que perde a inocência para se tornar mulher, ou seja, amadurecer e que transitar entre a terra e o submundo, que, em nossa realidade, correspondem ao consciente e ao inconsciente, respectivamente.
O submundo aqui representa o que temos dentro de nós: o inconsciente, o interior desconhecido que pouco acessamos, por muitas vezes considerarmos tratar-se de algo assustador, sombrio e que deve ser evitado.
As “sombras” no arquétipo de Perséfone
Jung define as “sombras” na Psicologia Analítica como tudo o que foi negado, reprimido ou ainda permanece desconhecido pelo indivíduo e está reprimido em seu inconsciente, mas que não necessariamente sejam de todo ruins e, por isso, não devem ser interpretadas como coisas negativas de serem acessadas.
Portanto, nem tudo que é sombrio é necessariamente ruim ou deve ser evitado. E o arquétipo de Perséfone mostra a importância de conseguir transitar entre o consciente e o inconsciente (a superfície e o submundo), forçando-se a olhar para a sombra e desenvolver os aspectos desconhecidos ali presentes, para que possam ser integrados ao processo de desenvolvimento e individuação pessoal abordado por Jung.
Afinal, ninguém é só luz. Uma árvore, enquanto cresce acima da terra, com seus galhos e folhas alcançando grandes alturas nos céus, também desenvolve suas raízes debaixo da terra para se manter viva e firme.
A professora Paluana Luquiari, da pós-graduação da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), desenvolve o arquétipo de Perséfone na Psicologia Analítica em um vídeo extremamente rico sobre o assunto.
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