A esquizofrenia é um transtorno mental crônico caracterizado por crises psicóticas e incapacitantes, com alterações no pensamento, emoções e comportamento, que atinge cerca de 21 milhões de pessoas no mundo — de acordo com a Organização Mundial de Saúde. No Brasil, este número chega a dois milhões de pacientes.
A gravidade da doença torna muito interessante qualquer tratamento que se mostre eficaz. Recentemente, esse foco está nos tratamentos com canabidiol que, apesar do grande desafio ainda enfrentado pelas restrições, têm apresentado resultados cada vez mais promissores — seja pelo seu efeito antipsicótico ou pelo bom perfil de tolerabilidade.
Há evidências do uso de canabidiol contra esquizofrenia?
A primeira evidência sobre o uso do canabidiol contra esquizofrenia surgiu em 1982, quando um estudo sobre as interações entre o tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD) em voluntários normais e saudáveis apontou propriedades antipsicóticas no CBD — informa um artigo da Ease Labs.
Os pesquisadores constataram que a substância mais abundante e estudada da Cannabis é capaz de bloquear a ansiedade e demais sintomas psicóticos provocados pelo próprio delta 9-THC no organismo. Esse resultado motivou mais estudos clínicos a respeito do uso do canabidiol no tratamento de doenças mentais.
O que dizem os estudos sobre canabidiol e esquizofrenia?
Foram encontradas evidências clínicas de que o canabidiol pode representar um novo tratamento para a esquizofrenia. Partindo de análises pré-clínicas, feitas em modelos animais susceptíveis a alterações de comportamento, o canabidiol se mostrou capaz de reduzir comportamentos cognitivos e positivos da patologia.
Outros estudos mostraram que o CBD pode atuar como modulador hipocampal de glutamato — um neurotransmissor fundamental que atua na cognição, memória e no mecanismo de algumas doenças neurodegenerativas.
Houve também um ensaio duplo-cego conduzido com pacientes esquizofrênicos. Foram definidos dois grupos randomizados: um deles recebeu o CBD e o outro grupo placebo, mantendo as demais medicações de uso habitual. Após seis semanas de intervenção, aqueles que usaram o canabidiol contra esquizofrenia apresentaram níveis mais baixos de sintomas psicóticos positivos — além de baixos efeitos adversos.
Experimentos feitos na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade de São Paulo (USP) e publicado na Frontiers in Molecular Neuroscience, indicaram que o CBD possui efeitos similares a outros fármacos normalmente utilizados para o tratamento da doença, mas tem um mecanismo de ação distinto, o que mostra o potencial do canabidiol contra a esquizofrenia.
Este estudo também mostrou que os compostos da Cannabis cancelaram os efeitos da substância que danifica a bainha de mielina; o que é muito bom, já que essa substância prejudica a transmissão dos impulsos nervosos e é uma das prováveis causas do transtorno.
“Se os estudos avançarem, talvez o canabidiol possa evitar os efeitos indesejáveis das drogas que agem no sistema nervoso central – a clozapina pode causar ganho de peso, o haloperidol tremores e, ambos, sonolência” — diz o biólogo Daniel Martins-de-Souza, também da Unicamp, que coordenou esse trabalho e que ficou muito animado com os resultados.
Cannabis pode ser um fator de risco para esquizofrenia?
Embora o uso recreativo da Cannabis por indivíduos predispostos possa ocasionar diversos transtornos psiquiátricos, além de dependência e déficits intelectuais, o artigo publicado no Brazilian Journal of Psychiatry mostrou que a Cannabis não é a causa para o desenvolvimento da doença. Afinal, “a maior parte das pessoas que usam Cannabis não desenvolve esquizofrenia e muitas pessoas diagnosticadas com esquizofrenia nunca utilizaram Cannabis”.
Um estudo publicado em 2010 confirmou o potencial antipsicótico do canabidiol para a população em geral, incluindo pacientes com transtornos psiquiátricos existentes: “os dados são consistentes com um potencial terapêutico do CBD na melhora das consequências psiquiátricas” para ambos os perfis — afirmam os pesquisadores.
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