Na graduação em psicologia você se deparou com a intrigante figura de Carl Gustav Jung, criador da Psicologia Analítica, ou Psicologia Junguiana, e a busca pela compreensão da mente humana com profundidade. Mas o que exatamente é essa abordagem psicológica e quais são os principais conceitos que os psicólogos devem dominar para compreendê-la plenamente?
A Psicologia Analítica, desenvolvida por Carl Jung, mergulha nas profundezas do inconsciente humano, tanto coletivo quanto pessoal, explorando os símbolos, mitos e arquétipos que moldam nossa psique.
Ao contrário das abordagens mais tradicionais da psicologia, que se concentram principalmente na mente consciente, a Psicologia Analítica busca integrar os aspectos conscientes e inconscientes da psique para promover o autoconhecimento e a individuação.
Neste artigo, vamos explorar os principais conceitos da Psicologia Analítica Junguiana e como eles podem iluminar o caminho dos psicólogos em sua prática clínica e pessoal. Continue lendo para embarcar em uma jornada de descoberta interior e compreensão mais profunda do ser humano, conforme mergulhamos nos mistérios da mente junguiana.
O que é psicologia analítica?
A Psicologia Analítica, também conhecida como Psicologia Junguiana, é uma abordagem psicológica desenvolvida pelo renomado psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Essa escola de pensamento explora os processos mentais, a personalidade e o inconsciente coletivo e pessoal, buscando compreender a totalidade da psique, tanto os aspectos conscientes quanto os inconscientes.
Diferentemente das abordagens psicológicas mais tradicionais, que tendem a focar principalmente na mente consciente e nos comportamentos observáveis, a Psicologia Analítica considera que o inconsciente possui uma influência significativa sobre o comportamento humano e a experiência subjetiva.
Assim, busca-se integrar esses aspectos conscientes e inconscientes para promover o autoconhecimento e o desenvolvimento pessoal.
Jung propôs conceitos fundamentais, como os arquétipos, os complexos, a individuação e a sincronicidade, que são centrais na Psicologia Analítica. Esses conceitos são explorados através da análise dos sonhos, da imaginação ativa, da interpretação de símbolos e mitos, entre outras técnicas, visando ampliar a consciência e promover o equilíbrio psíquico.
Em essência, a Psicologia Analítica busca não apenas tratar sintomas, mas também cultivar uma compreensão mais profunda do ser humano e de sua jornada de autorrealização.
Conceitos principais da Psicologia Analítica
Complexos e arquétipos
Os complexos podem estar associados a experiências particularmente difíceis do passado ou a qualidades arquetípicas, como masculinidade ou agressão, que o indivíduo não foi capaz de controlar ou lidar.
Paralelamente, Jung descobriu, ao trabalhar com indivíduos psicóticos, que suas experiências se enquadravam em certos padrões e que, além disso, cada uma de nossas psiques é estruturada por esses padrões. Ele chamou esses padrões de arquétipos.
Ele entendia que um ou mais arquétipos estavam no centro de cada complexo. Por exemplo, pode-se dizer que alguém tem um “complexo materno”, que teve dificuldades particulares com a sua experiência inicial com a mãe e que, portanto, não foi capaz de humanizar as forças poderosas relacionadas com o arquétipo da mãe.
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A psique proposital e autorregulada
Fundamental para a visão de Jung sobre a psique era que a mente e o “inconsciente” eram amplamente confiáveis e que estavam o tempo todo tentando ajudar o indivíduo; dessa forma, ele via a psique como autorreguladora.
Jung contrastou esta visão com a de Freud que, segundo ele, transformou a psique em doente, sempre em busca de problemas ou dificuldades, e analisando e reduzindo as dificuldades do indivíduo a experiências traumáticas na infância ou a conflitos sexuais.
Jung pensava que mesmo sintomas problemáticos, como ansiedade ou depressão, poderiam ser potencialmente úteis para chamar a atenção do indivíduo para um desequilíbrio na psique.
Por exemplo, se alguém fica deprimido, talvez a maneira como está vivendo sua vida signifique que não está seguindo um caminho natural e fiel à sua personalidade particular. Jung entendeu isso como sendo devido à natureza intencional da psique.
O Eu/Ego
Jung também pensava que a maneira como nos vemos (nosso ego) é limitada e que o “homem moderno” ficou isolado de sua verdadeira natureza instintiva. Ele pensava que precisamos ouvir a nós mesmos e descobrir quem realmente somos e o que realmente sentimos.
Jung então passou a acreditar que precisávamos ser guiados pelo que ele chamava de self, que é um sentido inconsciente da personalidade como um todo, uma imagem arquetípica do pleno potencial do indivíduo.
Individuação
Jung pensava que o “self/eu” atua como um princípio orientador dentro da personalidade e que seguir sua liderança provoca o desenvolvimento da personalidade. Ele descreveu esse processo natural de desenvolvimento como individuação.
Este processo envolve avançar em direção à manifestação de todos os elementos naturais da personalidade. Além disso, o processo nunca está completo, pois o indivíduo está sempre reagindo à situação nova e em mudança e deve acomodar novas partes e configurações de si mesmo para fazê-lo. Leia mais sobre individuação.
A sombra
Aqueles elementos do eu que não foram integrados à personalidade consciente, Jung chamou de sombra. Esses elementos às vezes ficam na sombra porque as qualidades e funções são negadas ou rejeitadas porque a pessoa sente que são inaceitáveis.
Estas podem ser tipicamente partes “negativas” e aparentemente destrutivas da personalidade, como a agressão ou a inveja (embora Jung diria que todos os aspectos da personalidade – claro e escuro – são necessários para que a personalidade se torne completa e bem fundamentada).
Para outras pessoas, podem ser as qualidades vulneráveis, sensíveis ou amorosas que são negadas – a família ou cultura específica de uma pessoa terá uma forte influência nisso. Leia mais sobre a Sombra.
Outra razão para determinadas qualidades permanecerem na sombra é que elas simplesmente não foram desenvolvidas. Jung pensava que cada um de nós desenvolvia certas funções da personalidade como primárias, que ele via como funções dominantes ou superiores, enquanto outras eram menos desenvolvidas, que ele chamava de funções auxiliares, e aquelas que eram muito pouco desenvolvidas ele chamava de funções inferiores.
As quatro funções
Jung identificou quatro funções diferentes:
- pensamento;
- sentimento;
- sensação;
- intuição.
Cada um corresponde à antiga divisão de funções em ar, água, terra e fogo. Jung via essas funções como as diferentes formas de um indivíduo se envolver com o mundo.
Muitos mal-entendidos ocorrem entre pessoas que têm como primárias funções diferentes e que, consequentemente, verão o mundo de maneiras muito diferentes. Jung entendeu que no processo de individuação uma pessoa precisará desenvolver suas funções inferiores – sejam elas quais forem para o indivíduo em particular – para que não projetem simplesmente essas funções em outras pessoas.
Introversão e extroversão
Ele também identificou duas atitudes diferentes em relação ao mundo – aqueles indivíduos que reagiam mais abertamente ao mundo e que estavam mais entusiasmados e envolvidos com ele, ele chamou de extrovertidos; enquanto aqueles que não mostravam externamente suas reações, mas as mantinham dentro de si e desenvolviam mais interesse em seu mundo interior, ele chamava de introvertidos.
Jung reconheceu que desenvolveu sua teoria dos tipos em parte para compreender melhor as diferenças entre ele e Freud, embora a considerasse muito útil para compreender as pessoas e, em particular, a maneira como elas se relacionam com os outros.
Sonhos
Uma forma de compreender o que está acontecendo na psique, que Jung passou a valorizar quase acima de todas as outras, são os sonhos. Ele pensava que “eles nos mostram a verdade natural e nua e crua”. Ele acreditava que os sonhos não disfarçam seu conteúdo, ao contrário de Freud, que pensava que os sonhos expressavam desejos proibidos que estão ocultos no sonho. Jung pensava que os sonhos se expressavam através do uso de símbolos e que era a dificuldade de compreensão desses símbolos que poderia dificultar a compreensão do sonho. Leia mais sobre sonhos.
Espiritualidade e religião
Jung descobriu que a experiência de ouvir e ser guiado por si mesmo corresponde ao que foi entendido, ao longo dos milênios, como experiência espiritual.
A base para esta compreensão foi que o indivíduo precisa de ir além da sua experiência cotidiana imediata, incorporada no ego, e entrar em relação com o self, que por vezes é experienciado de uma forma “numinosa” e inspiradora. Esta é uma experiência transformadora para o indivíduo e que move o seu centro de gravidade do egocentrismo mesquinho e pessoal para uma visão mais ampla de si mesmo, mais em contato e relacionado com outras pessoas.
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