Agora, tem alguns fenômenos que me preocupam. Como é o caso do número de postagens agressivas, violentas, de discriminação, sobre questões de gênero, entre outras. As palavras de ódio parecem ganhar impulso nas redes sociais. Eu comecei a reparar nisso observando as postagens de ódio envolvendo comentários políticos, que basicamente mostram uma bipolaridade de pensamento e de postura atual. Ama-se ou odeia-se. Esquerda ou direita. Parece não haver mais tolerância nem meio termo. Neste campo, o que mais se divulga é o ódio. Como se não houvesse outra saída política que não a guerra: eliminar a diferença.
Quando eu comecei a ficar preocupado com isso, fui pesquisar para ver se alguém já havia escrito algo assim. Encontrei uma entrevista de um psicanalista italiano, que mora em São Paulo e é bastante conhecido no meio psi. Ele chama-se Contardo Caligaris. Este psicanalista visualizou algo parecido com o que penso, que é: o ódio nas redes sociais é valorizado. Caligaris descreve o exemplo da chacina de Campinas onde um homem assassinou sua família numa noite de ano novo. Ele conta que houveram muitas postagens de pessoas apoiando e incentivando este crime, o que é realmente preocupante. A mesma coisa aconteceu com episódios de violência contra gays e transexuais em São Paulo. Então, existe esse fenômeno que é o ódio compartilhado na internet, o que é muito preocupante.
Quer ver um post seu ser curtido, compartilhado e comentado, coloque seu ódio para fora. O desafio agora é postar uma solução para isso, que é muito mais difícil e envolve um processo de pensamento mais sofisticado. Na época eu pensei em escrever uma crônica sobre isso, mas pensei que o brasileiro estava coberto de razões para ter ódio e que uma crônica poderia ser mal interpretada naquele momento. Eu dei até um título para ela: “Odiar, Curtir e Compartilhar”, qualquer dia escrevo. Pessoalmente, a face que eu acho mais cruel das redes sociais é um fenômeno novo da internet, que é quando o sujeito passa de usufruir a rede social e começa a ser usufruído por ela.
Tivemos um período do Ser, onde o que contava eram seus comportamentos e pensamentos. Tivemos um período do Ter, onde seu valor estava no que você consumia e possuía e, agora, estamos entrando num período onde o ser é um Produto. Você vale a sua interação na internet. Óbvio que estes três pontos coexistem.