A luta contra o HIV pode ter um novo capítulo na história. Medicamentos antirretrovirais mostraram-se muito eficazes no combate à disseminação do vírus entre casais sorodiscordantes (isto é, quando apenas um é soropositvo). Atualmente o único meio conhecido de prevenção entre casais era a camisinha, no entanto, esses remédios têm o potencial de mudar isso, pois demonstraram que podem evitar o contágio mesmo sem o preservativo.
A pesquisa foi publicada no Jornal da Associação Médica Americana, o Jama, e é considerada o trabalho mais amplo já realizado sobre o tema. Reuniu quase 900 casais (dois terços homossexuais e um terço heterossexuais) entre 2010 e 2014, em 14 países europeus. Apenas 11 pessoas que não tinham HIV foram infectadas, e as análises moleculares dos vírus confirmaram que eles eram distintos do genoma do HIV do parceiro estável, ou seja, a droga mostrou-se altamente eficaz. Oito pessoas confirmaram ter casos extraconjugais.
Os especialistas reforçam que, apesar dos resultados, os medicamentos antirretrovirais não garantem 100% de eficácia. Uma falha no uso regular da droga pelo paciente ou uma eventual resistência do vírus podem expor o parceiro ao HIV. Portanto, antes de ter relações sexuais sem preservativo, algumas medidas devem ser tomadas. O ideal é manter o ritmo das doses recomendadas diariamente e ingerir o medicamento pelo prazo mínimo de seis meses, e aguardar que a supressão viral seja completa.
Um trabalho divulgado na Conferência Internacional de AIDS em Durban, África do Sul, e também publicado pelo Jama, mostrou que o aumento da circuncisão aliado ao maior uso de antirretroviais teve um papel muito positivo na redução da transmissão do vírus em comunidades rurais da Uganda, país muito afetado pela disseminação do HIV. Como se sabe, a circuncisão facilita a higiene e reduz a exposição de células que podem ser alvo do vírus.
Esse estudo durou 14 anos e ocorreu entre 1999 e 2013. Nesse período, 21% dos homens e 23% das mulheres passaram a receber medicação contra o HIV, e aproximadamente 40% dos homens foram circuncidados. Nas comunidades onde houve mais circuncisões e um maior uso de antirretrovirais, houve uma redução de cerca de 40% na incidência do vírus.
Segundo um novo relatório da ONU, entre os anos de 2010 e 2014 o Brasil registrou um aumento de 4% nas infecções pelo vírus HIV, o que demonstra que é necessário pensar em estratégias complementares aos métodos tradicionais para evitar o contágio, como o oferecimento de drogas preventivas para grupos de alto risco, como, por exemplo, o de homens homossexuais.