Devido ao aumento dos nascimentos prematuros, nas últimas décadas, houve um acréscimo significativo dos casos de alterações neurocognitivas e do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). Ao mesmo tempo que a incidência de mortalidade na faixa etária neonatal tem diminuído, as internações hospitalares têm sido prolongadas e privativas, estando associadas a alterações no desenvolvimento infantil pós-natal.
A idade gestacional e o peso ao nascimento são considerados os principais fatores de risco relacionados a alterações no DNPM em curto, médio e longo prazo, pois estão associados com complicações clínicas importantes (infecciosas e não infecciosas), as quais podem contribuir para aumentar o tempo de internação do recém-nascido na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTINeo). O tempo de internação na UTINeo é determinante para o desenvolvimento infantil, pois a hospitalização está associada aos riscos biológicos e ambientais para atraso no DNPM.
Os estímulos inadequados e a permanência no leito na mesma posição e/ou o posicionamento inadequado no leito durante a maior parte do tempo são rotineiramente observados em UTINeo, interferindo no DNPM. A utilização do posicionamento funcional é recente no Brasil. A adoção do posicionamento funcional dos recém-nascidos em UTINeo pode resultar em alterações transitórias do tônus muscular, interferindo no DNPM de lactentes prematuros com ou sem doenças neurológicas.
Também são conhecidos os efeitos de programas de intervenção precoce para lactentes prematuros, demonstrando que a estimulação sensório-motora (proprioceptiva, tátil, vestibular, sinestésica, auditiva, visual) contribui para os efeitos positivos no DNPM. Dessa maneira, as oportunidades oferecidas ao lactente são determinantes para o seu desenvolvimento, uma vez que as habilidades motoras se diferenciam em consequência da forma como são manipuladas/estimuladas.
O tempo de permanência na posição prona está associado positivamente com o desenvolvimento motor típico, enquanto o posicionamento prolongado em supino, age de forma negativa diante da postura prona. Contudo, quando a alternância frequente de decúbitos é realizada no posicionamento correto, pode-se otimizar a função pulmonar, facilitar a reexpansão pulmonar e estimular o DNPM dos lactentes recém-nascidos prematuros ou não.
Principalmente os recém-nascidos prematuros, que apresentam fatores de risco para alterações no DNPM, tendem a apresentar tempo prolongado de internação hospitalar, sendo necessários estímulos adequados e posturas apropriadas de acordo com suas condições clínicas e faixa etária. A atenção de profissionais de saúde quanto à troca de posicionamento desde o nascimento aos primeiros meses de vida torna-se essencial, uma vez que a sua privação limita a experiência vivenciada pelos lactentes.
É competência do fisioterapeuta os cuidados de prevenção e tratamento das alterações funcionais relacionadas ao DNPM em UTI Neonatal, assim como o posicionamento funcional.
Profa. Cíntia Johnston
Coordenadora dos Cursos de Pós-graduação em Fisioterapia em Neonatologia e Pediatria, USCS, Pós-doutoranda em Terapia Intensiva Neonatal, USP.